Desactualizado e Desinteressante

Versão online de jornal inexistente. A mesma falta de qualidade ao seu dispor.


sexta-feira, julho 11, 2003

17 - PRIMEIRA ENTREVISTA

Durante um período de uma semana muitíssimo trabalhosa a apreciar bikinis e a absorver raios ultravioletas, também me diverti a entrevistar alguns dos doentes do hospital psiquiátrico em que fui internado recentemente.
Descobri que existe um novo doente cuja insanidade mental atingiu um nível muito superior ao meu. Basta reparar na razão do seu internamento: filiou-se no partido Nova Democracia, de Manuel Monteiro!
Está neste momento na ala de alta segurança, após variadas tentativas de assassinato (com uma esferográfica) dos doentes cujo primeiro nome fosse Paulo.
Desloquei-me à zona de alta segurança e esta foi a entrevista possível:

Doente mental JB: Truz Truz! Poder-me-ia abrir a porta e conceder-me uma entrevista, colega?
Doente mental JF: Abrir a quê? Porta? Portas? Aqui não há Portas, sua besta! Isto designa-se por “abertura na parede destinada a comunicar com o exterior ou com outra dependência do edifício”. Está a tentar provocar-me com essa palavra?
Doente mental JB: Peço desculpa. Poder-me-ia abrir a abertura na parede destinada a comunicar com o exterior ou com outra dependência do edifício e conceder-me uma entrevista, colega?
Doente mental JF: Depende, o seu primeiro nome é Paulo? Tem algum Paulo na família?
Doente mental JB: Hum… tenho alguns familiares com esse nome...
Doente mental JF: Então fica aí fora a entrevistar-me!
Doente mental JB: Como queira, vou então dar início a esta entrevista deste lado da por..abertura. 1...2...3! Começou!
Tinha tomado os comprimidos quando decidiu filiar-se na Nova Democracia?
Doente mental JF: Não, mas isso não teve influência. Eu fazia parte de outro partido e quando descobri que o Dr. Manuel Monteiro não iria conseguir voltar democraticamente à sua liderança, sugeri-lhe que espetasse uma caneta nas costas do actual líder. Ele não aceitou a sugestão e lembrou-se de se vingar dele de outra forma: fundando um novo partido com uma democracia nova, diferente.
Doente mental JB: E mudou de partido porquê?
Doente mental JF: Se ele mudou, eu também tinha que mudar! Para mim, a política resume-se a uma pessoa e a tudo o que ela defende. Eu sempre gostei de lamber as botas às pessoas. É um fetiche que eu tenho.
Doente mental JB: E qual é o programa desse partido? É igual ao do outro?
Doente mental JF: Não sei, ainda não li, mas isso não é importante.
Doente mental JB: O que é importante, então?
Doente mental JF: O importante é arranjarmos um tacho para o nosso mestre. Se não der resultado, voltamos a fundar um novo partido e passamos a atacar este.
Doente mental JB: Mas não conseguem divertir-se com brincadeiras mais bonitas? Podiam jogar às escondidas ou andar de baloiço…
Doente mental JF: Jogar aos partidos políticos é mais interessante, embora não negue que andar de baloiço também seja muito divertido.
Doente mental JB: Essa fixação por baloiços ou parques infantis não o levou a ter o seu telemóvel sob escuta num processo muito em voga actualmente?
Doente mental JF: Vá ver se eu estou na esquina...
Doente mental JB: A esquina é uma referência à prostituição infantil?
Doente mental JF: Continua a provocar-me! Olhe que eu abro esta abertura na parede destinada a comunicar com o exterior ou com outra dependência do edifício e dou-lhe um murro no focinho!
Doente mental JB: Focinho? Também tem fetiches com animais? Abra lá isso! Eu sei defender-me...sou bom à defesa!
Doente mental JF: Ministério da Defesa? Isso também me irrita profundamente, sua besta! Não presto mais declarações, palhaço.
Doente mental JB: Muito obrigado pela gentileza de me conceder esta entrevista. Fico muito grato pela sua grande simpatia e disponibilidade.